Binóculo

O cais é uma forma vibrante. Um espaço em movimento.
No limite entre água e terra está o porto.
Na imagem, a água esta ausente. O cais lugar de negociação. É o canto do interior. Carregar ou descarregar, fato ou ficção, sonho ou ato. Tudo tem que ser pesado, puxado, carregado e descarregado, volume e peso definem o preço.
Às vezes tem alguém no cais, olhando para longe.

Este binóculo não quer estar aqui, mas em outro lugar. Quer ver o cais; diminuir o olho, aumentar a memória. Ver que esse olhar causa movimento, que o vento se encarrega. É a recompensa de um ato de desejo.

Quer saber, atrás da última superfície, a seguinte e depois mais outra e mais outra. Quer, na transferência devagar do cais, decidir o momento do espaço. Quer ir atrás da vida por prazer ou por angústia. Quer reforçar o olhar. Não quer saber para onde. Quer desmascarar o tempo e matar. Quer ver a transferência como se fosse uma série de painéis, sobrepondo-se melhor num dado momento. Descobrindo e cobrindo. Esse é o céu, quando tempo e lugar se encontram da melhor maneira. O mundo imperfeito do passar.
Quer que a neblina dificulte o aparecer e refine o olhar. Para isso precisa-se de distância, justamente o necessário, para aparecer a luz, surgir espaços novos.

Leo Divendal

Tradução: Stijntje Blankendaal


Leo Divendal
Nasceu em Heemstede, Holanda, em 1947. Entre 1973 e 1980, estudou direção de teatro em Amsterdam. Paralelamente estudou fotografia como autodidata e com professores particulares na França e na Holanda. Expõe seu trabalho desde 1977 em museus e galerias na Holanda, Paris e nos EUA. Esteve no Brasil em 2007 onde participou do 3o Festival Paraty em Foco realizando uma exposição e ministrando um workshop. Publicou livros dentre os quais destacam-se Haze of Dawn (2007) e The Road to Raton (2005).