Fortaleza, julho de 2010

“Toda foto é uma imagem que permite interrogar, ao mesmo tempo, o alhures e o aqui, o passado e o presente, o ser e o devir, o imobilismo e o fluxo, o contínuo e o descontínuo, o objeto e o sujeito, a forma e o material, o signo e a imagem. Uma foto é um vestígio enigmático que faz sonhar e que constitui problema, que fascina e que inquieta.” François Soulages.

Sair por aí, encontrar pessoas nas ruas, acomodar-se na multidão. Transitar na passagem e até às vezes sentir-se em transe. Cada um em sua parada. Urbanos. A imagem da cidade contemporânea e o habitar as ruas são representadas e expressadas poeticamente por estes fotógrafos com suas lentes. Urbanos no sentido de encontros na cidade. Atos criativos como atos políticos de uma “polis”. Encontros de questões.

Kevin Lynch identificou que as pessoas utilizam caminhos, limites, bairros, pontos nodais e marcos como elementos para a estruturação da imagem da cidade, e, que o tempo é um elemento essencial, pois essa percepção é feita aos poucos, já que é impossível apreender toda a cidade de uma só vez. Ele também verificou que tudo que é experimentado é em relação a seu entorno e não individualmente. Elementos semelhantes, localizados em contextos diferentes, adquirem significados diferentes. Cada cidadão tem distintas associações com partes da cidade e a imagem que ele faz delas está impregnada de memórias e significados.

Estas imagens são fragmentações que nos habitam e que percorrem em nossas vidas, nas quais são deslocadas através das fotografias. São imagens mediadoras entre a cidade e o ser que nela vive e o ser que a olha. Ou são imagens das imagens representadas? O fotógrafo como poeta que deixa vestígios fenomenológicos de sua passagem na obra no encontro com o objeto, o sujeito que contempla em sua imaginação, o objeto que existiu ou nunca existiu, são transformações, deslocamentos, infinitas aberturas de sentidos. Esta é a contemporaneidade Urbana. A subjetivação das pessoas sendo deslocadas para outros sentidos ou outras vias ou apenas deslocamentos das vias em um único sentido universal pelo seu reconhecimento.

Contemplando estas imagens reconhecemos algo pertinente a nós, mas que foi deslocado através das experiências de cada fotógrafo em seu habitat. Olhares poéticos da sua cidade, cada um em sua parada, em seu tempo, deslocando através das imagens para outros tempos.

* Jônia Tércia é designer gráfico, publicitária e artista plástica.